sexta-feira, 16 de março de 2012

Ato jurado e consagrado n#1

Poderia até lavar a escadaria do Bonfim com suas lágrimas
O suor nas lavouras, traça o caminho de um hoje tardio
O açúcar de engenho, brada como os silenciosos moinhos de vento à girar

A foice e o machado, mudam de sentido
Ganham rubor ao envergonharem-se de si
De sua ganância vil, por vezes despotista
Castos são gastos pra ganho d'outros
Viram trapo
Viram trampo
Comem pouco ou nada comem

Se morrem e se matam terras afora
Se vão quando ainda nem foram convidados a ficar
Perpassam por teu tortuoso e esplêndido litoral
Erguem muros aos quais, jamais pertenceram
E ouso crer que jamais pertencerão

Exaltam um verde-mato e um amarelo-canário
Contrastados com o progresso precário e pueril
Polido e românico
Mordido e embriagante
Se enobrecem sem saber de que, de quem, para que, para quem

Dificilmente conhecem o todo
Talvez desconheçam sua própria parte
Ó Pátria repleta de solo vasto e mar entorpecente
De tempo louco e povo crente
Ó límpidos campos ainda coloridos pelas andorinhas
A voar como uma valsa do bandoleiro que abraça o bandolim

A vida emana das cascatas para desaguar em corações
Que talvez nem disso entendam
Ou não se lembrem mais
Braços, brados, traços, fardos
Unidos num só brasão
Ainda que incoerente e fantasiado como arlequim

Ainda que rica, pobre Nação
Que deitada em berço esplêndido
Deleita-se em propriedades impróprias e frutíferas
Ainda que mãe, algoz
Ainda que bela, cruel e encantadora

Sabem de teus dons, dádivas e formosura
Porém, outros mais que estes que aqui estão
Outros que não estes teus filhos, mais sabem de ti
Não pelo amor que impulsiona e une os da terra
Não há motivo dos outros te notarem, que não a avareza
Querem usar-te e exterminar memórias de uma paixão pouco constatada

Memória construída com sólidas rochas e verbetes
É tua igualdade que se ergue de uma justiça injustiçada
Ecoando eloquentes e apaixonadas
Um coro em cândidas vozes
Agora caladas e retraídas

Contraste com os gritos de um passado não tão longínquo
Não tão distante
Gritos esses, de uma liberdade chorada à sangue e lamúria
No alvorecer deste novo dia, o raio do sol vem anunciar
Uma realidade teleguiada via satélite não-lunar
Que esconde seu exílio e força num passado remoto
Ainda que próximo, intangível
Ainda que sabido, impossível ou improvável

Não querem admitir, aqueles outros
A força do fogo que consome o coração
Abrasa a alma e faz morrer a diferença
Floresce ainda menina e surge com ancestrais forjados
Pouco se conhecem, mas se entendem e padecem
Se deixam usar
Mais por indiferença que por inocência e pureza

Surge embebida de um sentimento quase selvagem e maior
Faz dessa a maior
Periférica de si mesma em seu interior
Coesa e incoerente
Com graça e desgastada
Com gente e devastada de sonhos

Essa paixão ainda perdida e descrente
Promove solidões e fidelidade
Move a vida com juras eternas
Move o mundo
Move tudo

Nenhum comentário:

Postar um comentário